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Sob os Céus de Conquista

Francisco Silva

Dia desses, eu escrevi uma crônica "Verdade ou Mentira!" onde, eu fazia um breve "tour" no túnel do tempo do nosso rádio conquistense. Nela, eu concitava os bons tempos que o rádio em Conquista viveu e, era por assim dizer, uma continuidade sadia de um rádio que fez época e seus amantes. Falo da radiofonia conquistense com a mesma intimidade que eu poderia falar, por exemplo, da Rádio Globo do Rio de Janeiro, da Rádio Clube de Recife, da Super Rádio Tupy do Rio e da Rádio Bandeirantes; todas elas, naquele tempo, "adicionadas ao meu link de favoritas".

O Rádio em Conquista sofreu um abalo numa proporção superior ao abalo que sofreram outras emissoras pelo país afora. O primeiro grande vilão que acabou definhando o rádio tradicional foi, no meu entender, pois, eu não fiz qualquer pesquisa científica para fazer tal afirmativa, tratando-se, portanto, de uma constatação pessoal em nosso meio ambiente, então, dessa forma, eu classifico como o primeiro Vilão do Rádio Tradicional, o advento das FM’s. As rádios FM’s vieram com portfólio separatista; tinha essas rádios, uma característica de exclusão do profissional tradicional, tinha como público alvo o jovem, um mesmo timbre de voz, não admitia regionalismos e sotaques e, as músicas tinham que ser aquelas, cujo catálogo, já vinha com elas pré-determinadas.
O segundo vilão (eu classifico dois), a falta de estratégia da Igreja Católica; que, a cada ano perdia mais e mais fiéis para as igrejas renovadas (ditas evangélicas). Essas igrejas e denominações cresceram e, começaram a arrebatar os horários nos rádios, que, pelo seu esvaziamento natural, não viram saída senão, alugar a maior parte dos seus horários às agremiações religiosas. Com isso, veio o natural desmantelamento das emissoras, tal como vieram o desmantelamento dos cinemas, que perderam o seu público alvo para os videomaníacos e agora, os amantes dos DVD’s. O rádio, dessa forma, deixou de investir em novos profissionais, editar programas voltados para o desenvolvimento educacional e cultural da cidade e da região. Os programas esportivos tem caráter de sazonalidade, se o futebol na cidade vai bem, o programa tem também essa característica; se o futebol minguou, o programa se perde!
Na minha crônica citada, eu fiz referência aos bons tempos vividos e, digo de passagem, tempos terminais desse rádio de qualidade, onde o João Melo e o MacDonald fazia das tardes conquistenses um show à parte, digno de elogios até de pessoas que tinham reservas quanto à audiência de rádios do tipo por exemplo, como a Rádio Clube de Conquista, que era considerada por essas pessoas como decadente e brega. Eu jamais pensei assim, ao contrário, sempre enalteci e valorizei o trabalho que a Rádio Clube desempenhava na nossa comunidade. O Rádio conquistense – leia-se a Rádio Clube – foi, na administração do senhor Aurelino Novaes, um portal de entrada para o desenvolvimento cultural da nossa cidade. A comunidade participava ativamente dos programas, tanto nos de auditório como nos programas realizados nas praças de nossa cidade (Alegria nos Bairros), como também, a "radionovela" que era gravada por artistas da nos sa cidade – os originais da Gessy Lever e Cashemire Bouquet chegavam, e logo estavam as nossas "rainhas e reis do rádio" sendo os atores. Como já frisei, o rádio marcou época em nossa cidade.
Ontem (02/02), eu estava conectado na Rádio Cidade (antiga Rádio Regional), ouvindo o programa Resenha Geral, o apresentador, o Hérzem Gusmão, falou que estava tentando negociar com o Gilson Moura a possibilidade desse "magnífico radialista e apresentador" [grifo meu] vir a apresentar um programa, que, nos fins da década de sessenta e até meados da década de setenta fez grande sucesso na saudosa Rádio Clube. O programa do Gilson pretendido pelo Hérzem é o "Álbum de Recordações da Juventude". Vou dar uma paradinha aqui nesta minha abordagem para fazer uma consideração à respeito desse assunto sob outro ponto de vista. Normalmente, quando vejo a TV Globo anunciar a gravação de um "remake" (novela antiga com nova roupagem e novos atores), eu fico um tanto chateado pois, eu preferiria assistir a própria novela que passou há vinte, trinta anos atrás e não uma nova com novos atores e carros atuais. Pois bem, o SBT fez exatamente o que eu tanto gostaria que fizesse a Globo. Resultado: não achei graça nenhuma na reprise de o Pantanal, comecei assistindo (há dezoito anos atrás eu não assisti toda), e logo eu perdi totalmente o interesse pela novela.
Voltando ao interesse da Rádio Cidade pelo Álbum de Recordações do Gilson Moura, eu tenho uma consideração a respeito desse particular; quando o Gilson apresentava tal programa, ele estava falando diretamente com os seus contemporâneos como também aos seus aproximados, que tiveram uma mesma juventude, e que, àquela época estavam apartados dessa por motivos naturais da nossa vida tais como, casamentos e os envelhecimentos. Eu concordo que a Rádio Cidade busque resgatar nomes como do Gilson Moura, todavia, dos antigos programas dele, só um caberia nos dias atuais e que eram uma aula de História Geral como também da Bíblia, falo do inesquecível "NA POEIRA NO TEMPO" onde, entre uma parada e outra na viagem da história, ele permeava com uma música do Carlos Galhardo, do Orlando Silva, do Orlando Dias, do Silvinho, de um Cancioneiro Mexicano – como ele costumava assim apresentar a música antes de ser tocada – ent re tantos outros nomes da velha guarda da música contemporânea brasileira. Com aquela voz inconfundível, dizia o Gilson Moura: "da poeira do tempo, extraímos essa linda página musical do cancioneiro Orlando Dias".
Programas como "A Cidade em Revista", "Atendendo aos Ouvintes" "O Redator Chefe" (a Rádio Clube também tinha um), "Dedicatórias Musicais" (esse era especialmente destinado aos aniversariantes nas tardes de domingo) "Alma Sertaneja" (do saudoso Afonso Oliveira), o programa do Samuel Oliveira que ia ao ar diariamente a partir das 09:00 da manhã; e um programa que eu fazia questão de ouvir nos domingos que era apresentado, se não estou enganado, das 18 às 19:00 horas era o "SOB OS CÉUS DA ITÁLIA". Depois de nomes de programas tão maravilhosos que foram, resta-me apelar, para que, advenha de, Sob os Céus da Sensatez, da Itália ou de Conquista o resgate do nosso amado rádio. Aqui em Curitiba o Rádio Antigo sobrevive, e os que se perderam foram totalmente recuperados.

Francisco Silva Filho

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